quinta-feira, fevereiro 13, 2014

SOCIEDADE: O retrato de uma Sasha Gray


Por Cristiano Alves


Há mais de cem anos atrás Oscar Wilde escrevia o seu mais famoso romance, "O retrato de Dorian Gray", sobre um jovem extremamente vaidoso que cultuava um narcisismo sem limites num universo hedonístico. Uma das máximas lançadas em seu livro, é a de que "there is only one thing worse than being talked about, it's not being talked about"(há apenas uma coisa pior do que ser comentado, é não ser comentado). Um figurão conhecido por sua "profissão" de fofoqueiro, transformaria essa citação de Wilde em "fale mal de mim, mas fale". E é necessário entender essa premissa fundamental para compreender o modus operandi da extrema-direita brasileira.

O pensador Edgard Morin dizia que o homem tem uma necessidade fundamental de olhar e ser olhado, e quando falamos de organizações políticas, que por seu caráter tem como premissa inerente a luta pelo poder, é extremamente importante que essa tenha o oxigênio da publicidade, e num país como o Brasil, que carece de uma tradição clássica, onde 75% da população nunca esteve numa biblioteca e a maioria daqueles que leem degustam algum livro apenas uma vez por ano, essa população torna-se alvo fácil de charlatães extremistas, os "Lewis Proteros" do horário policial, apresentadores que fazem da criminalidade um espetáculo achando que "o bom bandido é o bandido morto", desde que, evidentemente, esse bandido não seja o garotão bem nascido que "bota boneco drogado"(para usar a expressão cearense), desde que não seja o ricasso, o burguês que bate ou mesmo mata a própria mulher e que estimula a criminalidade financiando o tráfico de drogas. Esses programas televisivos, apresentados por jornalistas de meia boca, mostram apenas crimes terríveis, desgraças, nunca exemplos! Tratam a desgraça alheia como uma mercadoria sensacionalista, oferecida à sociedade do espetáculo.

Assim, todo esse terreno, arado por "jornalistas policiais" histéricos e espetaculosos, não raramente bufões, torna-se extremamente fértil para ideologias de extrema-direita, que apresentam como soluções para graves convulsões sociais não a educação, em seu sentido mais amplo, não uma revolução cultural e social, mas sim a repressão do Estado e em alguns casos mesmo uma apologia do linchamento, sem qualquer prova de que esse ou aquele sujeito é um criminoso, apenas testosterona para o onanismo político de uma população aterrorizada pelo crime e principalmente pelos meios midiáticos que transformam isso num grande espetáculo, que omitem as reais causas dessa situação, que é a natureza do capitalismo tupiniquim, de sua sociedade elitista, da falta de emprego e mesmo de coisas básicas no mundo civilizado como a energia elétrica, a água potável e mesmo uma rede de esgotos para toda a população.

Deste modo, para uma direita tacanha, caricata e histérica fica mais fácil recorrer a atos imorais, tão ou mais do que os de uma atriz hollywoodiana que se promoveu através da pornografia, Sasha Grey. Fica mais fácil para uma direita intelectualmente pobre e reacionária recorrer à sua própria exaltação, a um narcisismo típico de Dorian Grey. E de modo imoral e repugnante a "Sasha Grey do jornalismo" produz uma abominável geração de alienados, cujo combustível é apenas o ódio irracional, um caminho para o fascismo. É um erro dar a tais "Dorians Grays" o oxigênio da publicidade.

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