terça-feira, maio 06, 2014

SEMANA DA VITÓRIA: A irmãzinha, a história de uma combatente antifascista

Por Cristiano Alves


A então subtenente Katya, com a Ordem da Guerra Patriótica,  com um sargento e um soldado fuzileiros navais

Yekaterina Illarionova Mihailova nasceu em 1925 em Leningrado. Filha de militares, tornou-se órfã durante a infância. Tentou se alistar na força aérea nos anos 30, mas foi rejeitada por causa da idade. Determinada, entrou na escola de enfermeiras.

O ingresso de Yekaterina(Katya) no Exército Vermelho se daria em 1941, quando, indo visitar o irmão em Brest, extremo-ocidente da URSS, o seu trem civil seria atacado por caças Stuka alemães, provocando o seu descarrilhamento, ao qual Katya sobreviveria. De acordo com seu depoimento, ela viu cadáveres e feridos por toda parte, aos quais se apressou em socorrer. Junto aos feridos, ela voltou a pé para Smolensk onde alistou-se no Exército e tornou-se padioleira, soldado que vai para a batalha e carrega os feridos em macas.

Participou de várias missões de reconhecimento no front, socorrendo companheiros seus. Numa de suas missões, ficaria gravemente ferida com a explosão de um projétil de morteiro, que em suas palavras "a jogaria mais alto que uma árvore", ficando com sua perna ferida e sendo levada ao hospital militar na retaguarda.

De volta ao combate, Katya foi enviada para a Batalha de Stalingrado, onde serviria na retaguarda em um navio-hospital, onde foi reconhecida por seu brilhante trabalho e foi promovida a Subtenente. Cansada de seu trabalho na retaguarda, ela queria ir ao front, e por seu amor pelo mar queria ingressar no corpo de Fuzileiros Navais, que até então tinha apenas homens em suas fileiras. Seu pedido de ingresso nos Fuzileiros Navais foi a princípio rejeitado, apelando então para uma carta endereçada ao comandante-supremo das forças armadas soviéticas, o primeiro-ministro Iósif Vissaryonovich Stalin, que então a autorizou no corpo. Stalin sempre fez diversas concessões aos pedidos das mulheres soviéticas para seu ingresso nas mais diversas áreas, sendo um bom exemplo disso a carta de Maria Oktyabrskaya, que lhe solicitava a construção de um tanque feito com seus próprios recursos econômicos, ou a criação de um grupo de aviadores formado por mulheres, pedido de Marina Raskova.

Aos 17 anos, a jovem Katya se tornaria a primeira fuzileira-naval das forças armadas soviéticas, corpo que descendia dos lendários marinheiros de Kronstadt. Os fuzileiros navais eram conhecidos pelos fascistas como "a morte negra" por causa de seus uniformes pretos, por se tratar de uma tropa de elite altamente treinada, por seu preparo físico e por ser conhecida pelo seu combate obstinado. A recepção de Katya não foi nada amistosa entre os fuzileiros navais, céticos quanto à capacidade da jovem baixinha e fisicamente frágil. A princípio ela se tornaria instrutora do corpo de saúde, depois participaria da recaptura de Temryuk e receberia a primeira Ordem da Guerra Patriótica por sua participação na Batalha de Kerch, na Crimeia.

Os fuzileiros navais soviéticos eram uma tropa de elite da Marinha Vermelha, notáveis por seu uniforme diferenciado: negro com camiseta de listras pretas e fitas de munição usadas em "estilo cangaceiro". Os nazistas os chamavam de "a morte negra".

Em agosto de 1944, Katya participaria da batalha pela recaptura de Bilhorod-Dnyestrovsk, na Ucrânia. Cruzando o rio Dniestr, sua tropa escalaria um pico ocupado pelo inimigo. Durante o assalto à base fascista, Katya logrou em assaltar uma fortificação alemã, fazendo sozinha 14 prisioneiros e tratando 17 homens feridos. Por sua participação, ela recebeu a Ordem da Bandeira Vermelha. Meses depois, num exemplo de internacionalismo proletário, ela participaria de uma de suas mais ousadas ações, durante a campanha de libertação da Iugoslávia, na Croácia.

A Ordem da Bandeira Vermelha, atribuída por heroísmo em combate ou longo serviço nas Forças Armadas, duas vezes atribuída a Katya durante a guerra. A jovem baixinha russa logrou capturar sozinha 14 nazistas. Na Ordem está escrito "Proletários de todos os países, uni-vos!"

Katya e seus companheiros lançariam um ataque diversionário a partir de uma ilha inundada no rio Danúbio. Em razão da inundação, sua unidade, composta por 50 fuzileiros navais, usaria as árvores como posições de tiro. Após uma longa troca de tiros, dos 50 infantes navais, somente 13 sobreviveram, todos feridos. 7 dos 13 sobreviventes cairiam nas correntezas da água congelante, mas seriam salvos por Katya, que amarrou-os às árvores usando a bandoleira do fuzil e cintos. No tiroteio, Katya seria ferida na mão e contrairia pneumonia.

"Katyusha" seria hospitalizada com pneumonia e um ferimento na mão, mas ainda assim deixaria o hospital militar sem autorização para se juntar à tropa novamente, heroísmo que lhe valeu uma segunda Ordem da Bandeira Vermelha.

Com o fim da Grande Guerra, Katya seria desmobilizada, passando a atuar na Cruz Vermelha Soviética e no Crescente Vermelho. Recebeu a Medalha do Rouxinol de Florença, sendo a única mulher soviética a recebê-lo. Formou-se em medicina em 1950 e como médica trabalhou até 1985. Foi candidata para a nomeação de Herói da União Soviética 3 vezes, o que se efetivaria apenas em 1990.

Hoje, com 88 anos, é conhecida pelo seu jeito jovial e lúcido, visitando escolas, universidades e outras instituições para contar sobre sua experiência. Está frequentemente presente nas arquibancadas da grande Parada da Vitória do 9 de maio.

Yekatyerina Illarionovna, nos dias atuais, usando uma fita georgiana em sua capa e sua medalha de "Herói da União Soviética"


Vídeo-documentário sobre Katya:

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